sexta-feira, 17 de maio de 2013

OUVIR e LER (o namoro)



Os nossos alunos de 10º ano conhecem este poema "Namoro" do poeta angolano Viriato da Cruz porque o leem nas aulas de Português. Aqui fica para todos o poderem apreciar. E a música e voz de Fausto ilustram bem como a sonoridade de um poema pode conduzir a outras musicalidades. 
Vá lá, agora não digam que não têm vontade de namorar! :)
Bom fim de semana!

«Namoro», por FAUSTO
Letra: Viriato Cruz (poeta angolano)             
Música: Fausto

Mandei-lhe uma carta
em papel perfumado
e com letra bonita
eu disse ela tinha
um sorriso luminoso
tão triste e gaiato
como o sol de Novembro
brincando de artista
nas acácias floridas
na fímbria do mar 
Sua pele macia
era suma-uma
sua pele macias
cheirando a rosas
seus seios laranja
laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não 
Mandei-lhe um cartão
que o amigo maninho tipografou
'por ti sofre o meu coração'
num canto 'sim'
noutro canto 'não'
e ela o canto do 'não'
dobrou 
Mandei-lhe um recado
pela Zefa do sete
pedindo e rogando
de joelhos no chão
pela Sra do Cabo,
pela Sta Efigénia
me desse a ventura
do seu namoro
e ela disse que não 
Mandei à Vó Xica,
quimbanda de fama
a areia da marca
que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço
bem forte e seguro
e dele nascesse
um amor como o meu
e o feitiço falhou 
Andei barbado,
sujo e descalço
como um monangamba
procuraram por mim
não viu ai não viu ai
não viu Benjamim
e perdido me deram
no morro da Samba 
Para me distrair
levaram-me ao baile
do Sr. Januário,
mas ela lá estava
num canto a rir,
contando o meu caso
às moças mais lindas
do bairro operário 
Tocaram a rumba
e dancei com ela
e num passo maluco
voamos na sala
qual uma estrela
riscando o céu
e a malta gritou
'Aí Benjamim' 
Olhei-a nos olhos
sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim

2 comentários:

  1. Pedro18.5.13

    O poema é fantástico e o Fausto musicou-o divinamente. A interpretação do Sérgio Godinho também é excelente.

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  2. Lua Cunha20.5.13

    E para codimentar mais este saborzinho africano, aqui deixo um outro poema também muito belo, do não menos reconhecido poeta angolano António Jacinto - "Carta de um contratado"... por acaso também musicada e cantada pelo Fausto ...
    Então aqui vai. Deliciem-se...

    "Carta de um contratado"

    Eu queria escrever-te uma carta
    amor
    uma carta que dissesse
    deste anseio
    de te ver
    deste receio de te perder
    deste mais que bem querer que sinto
    deste mal indefinido que me persegue
    desta saudade a que vivo todo entregue...
    Eu queria escrever-te uma cara
    amor
    uma carta de confidências íntimas
    uma carta de lembranças de ti
    de ti
    dos teus lábios vermelhos como tacula
    dos teus cabelos negros como dilôa
    dos teus olhos doces como macongue
    dos teus seios duros como maboque
    do teu andar de onça
    e dos teus carinhos
    que maiores não encontrei por aí...

    Eu queria escrever-te uma carta
    amor
    que recordasse nossos dias na capôpa
    nossas noites perdidas no capim
    que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
    o luar que se coava das palmeiras sem fim
    que recordasse a loucura
    da nossa paixão
    e a amargura nossa separação...

    Eu queria escrever-te uma carta
    amor
    que a não lesses sem suspirar
    que a escondesses de papai Bombo
    que a sonegasses a mamãe Kieza
    que a relesses sem a frieza
    do esquecimento
    uma carta que em todo Kilombo
    outra a ela não tivesse merecimento...

    Eu queria escrever-te uma carta
    amor
    uma carta que te levasse o vento que passa
    uma carta que os cajus e cafeeiros
    que as hienas e palancas
    que os jacarés e bagres
    pudessem entender
    para que se o vento a perdesse no caminho
    os bichos e plantas
    compadecidos de nosso pungente sofrer
    de canto em canto
    de lamento em lamento
    de farfalhar em farfalhar
    te levasse puras e quentes
    as palavras ardentes
    as palavras magoadas da minha carta
    que eu queria escrever-te amor...

    Eu queria escrever-te uma carta...
    Mas ah meu amor, eu não sei compreender
    por que é, por que é, por que é, meu bem
    que tu não sabes ler
    e eu - Oh! Desespero - não sei escrever também!

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