Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

saber gerir o tempo está a arruinar-nos a vida?

Há uma semana entrou em vigor em França uma lei que dá aos trabalhadores o “direito a desligar” o email depois do horário de trabalho. Há anos que os gurus da eficiência e produtividade nos querem ensinar a trabalhar melhor (leia-se, mais e em menos tempo).

A verdade é que frequentemente esbarramos com exemplos de como todas estas técnicas pensadas para nos facilitar a dita “produtividade” acabam por ter o efeito contrário, exacerbando as nossas ansiedades. Quanto mais hábeis parecemos estar na forma como gerimos o tempo, mais parece que ele nos escapa por entre os dedos. Não foi por concluírem o desafio “Inbox zero” que as pessoas ficaram mais calmas. Alguns interpretaram o sistema como se cada email merecesse uma resposta, logo ficaram ainda mais agarrados ao correio electrónico – “O que me deixa doente”, confessa Mann. Outros ficaram ainda mais nervosos com a ideia de que, deixando entrar novos emails, estariam a conspurcar uma caixa de correio que se deveria manter imaculada, e consequentemente passaram a consultá-la de forma ainda mais obsessiva. A mim, a experiência do “Inbox zero” deixou-me aterrado: à medida que me ia tornando hipereficiente a limpar a caixa, mais mensagens iam entrando. E, no final das contas, o acto de responder a um email leva a nova troca de emails e assim sucessivamente. (Pelo contrário, quando se é negligente a responder, descobre-se que isso até traz vantagens. E das duas uma: ou as pessoas acabam por descobrir uma solução alternativa para aquilo que estavam tão ansiosas por resolver ou então a tal crise que achavam poder vir a acontecer nunca acontece.)
O fascínio por esta doutrina de gestão do tempo é que, talvez um dia, possamos, finalmente, ter tudo sob controlo. Vivemos, contudo, numa economia moderna para a qual o trabalho é cada vez mais ilimitado. E se parece não haver limite para o número de emails que recebemos, então a ideia de um “Inbox zero” acaba por não ser redentora. Continuamos, quais Sísifos, a fazer rolar o pedregulho montanha acima até ao fim dos nossos dias – só que o fazemos um bocadinho mais rápido. (adaptado de PÚBLICO)

Sem comentários: