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terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma reflexão sobre Inclusão, a propósito de "A Menina do Mar"


Aparentemente dois assuntos que não cabem na mesma reflexão – um conto de Sophia de Mello Breyner e o tema Educação Inclusiva -, mas foi precisamente uma dramatização de A Menina do Mar, realizada na nossa escola, que me suscitou uma reflexão sobre o que poderá contribuir efetivamente para uma educação inclusiva.
 Passo a explicar:
  No âmbito do projeto Ler Diferente a decorrer na nossa escola, foi lançado o desafio de levar a cabo a dramatização daquele conto, pelos alunos do 5ºD e da UAEM de 2º ciclo do nosso agrupamento, acreditando que a dramatização constitui uma excelente forma de compreensão e recriação do texto literário e, no caso de alunos que não desenvolveram a capacidade da leitura da linguagem escrita, um meio particularmente privilegiado de acesso ao maravilhoso mundo da literatura. O desafio foi abraçado pela Diretora de turma do 5ºD, professora Edna, com entusiasmo, otimismo e muita dedicação e, desde o início da preparação da atividade até ao momento da sua apresentação final, registei pequenos gestos e atitudes que considero verdadeiramente promotores de uma efetiva inclusão:
 . os momentos dedicados ao ensaio da dramatização decorreram  num ambiente de saudável interação entre todos os alunos, particularmente no que concerne ao respeito manifestado pelas capacidades dos que são portadores de multideficiência, traduzido em pequenos gestos que valorizavam a contribuição que cada um podia dar. Foram, assim, verdadeiras oportunidades de aprendizagem de respeito pela diferença, num ambiente em que a diversidade era a nota dominante;
. outra atividade que não poderia deixar de referir foi levada a cabo pelos mesmos alunos nas aulas de Língua Portuguesa. Sensibilizados, pela sua professora, para o facto de haver na escola alunos que não desenvolveram a capacidade de leitura da linguagem escrita, os alunos do 5ºD representaram alguns momentos do conto em desenhos, com a finalidade específica de os oferecerem aos alunos da UAEM, como uma forma colorida de conhecerem melhor A Menina do Mar. Portanto, o reconto da narrativa a partir de ilustrações permitiu que todos “entrassem” no texto, vivenciando uma experiência, poder-se-ia dizer, semelhante à amizade que as personagens de Sophia de Mello Breyner construíram;
. para a construção dos acessórios e guarda-roupa da dramatização, contribuíram os alunos do 5ºE, turma da qual faz parte um aluno da UAEM. Assim, durante algumas aulas de EVT, sob a atenta orientação da professora, “nasceram” algumas das personagens que iriam dar vida à apresentação de uma história sobre a amizade. 
  Destas pequenas (grandes) experiências, parece-me poder concluir que é na efetiva interação com os pares que mais eficazmente se promovem atividades inclusivas e que   “uma das mais poderosas estratégias para desenvolver um ambiente de aprendizagem mais inclusivo são os próprios alunos”(1).
  A promoção da educação inclusiva é, assim, mais do que aplicação rigorosa da lei, é a equidade, ou seja, a inclusão com justiça, no sentido do respeito pelas capacidades de cada ser humano e da valorização da sua participação. Tal requer que aprendamos a analisar cada situação pela perspetiva do outro, de modo a compreender que, por exemplo, transportar um adereço, tal como uma flor, é tão importante quanto pronunciar o mais elaborado diálogo para o produto final de uma dramatização. 
 Neste sentido,Eu sinto que os recursos mais importantes que conhecemos são os recursos humanos, e que, mesmo quando retiram os recursos financeiros, o sistema escolar ainda fica rico em recursos humanos”, para ir de encontro, mais uma vez, à perspetiva de Mel Ainscow (1).
 E porque nesta reflexão também de literatura se trata, termino-a com uma bela frase de Gonçalo M Tavares : “E a função mais bela dos homens é embelezar”. 
 Portanto, se incluir é tornar a vida dos outros mais bela, outras atividades semelhantes a esta se seguirão, com um antecipado “Obrigada!” a todos os que sobre elas a sua vontade depositarem. 
Maio de 2012
Ângela Campos
(Docente de Educação Especial)

(1)     Entrevista a Mel Ainscow. (2011) Educação Inclusiva- Revista da Pró-Inclusão: Associação Nacional de Docentes de Educação Especial. Vol.2, Nº2 (p.4-7)

1 comentário:

BMW disse...

Assim teremos um mundo melhor.
Obrigada a todos os que contribuiram.