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domingo, 6 de maio de 2012

dia da mãe

No dia do Pai sugerimos que não gastassem dinheiro para comemorarem a data. Deixamos a ideia que dedicassem TEMPO aos vossos pais, confecionando alguma coisa que achassem ser do gosto deles.
Hoje, sugerimos o mesmo para as mães. Dediquem-lhes TEMPO. Façam o almoço, passem a tarde numa conversa amena de sofá ou passeiem ao ar livre, façam um docinho, escrevam um texto (à mão,  para que a caligrafia do amor se leia) ...
Este, de Eugénio de Andrade, é um belíssimo "Poema à Mãe". Ilustramo-lo com uma não menos bela tela de Picasso.

La lecture, Pablo Picasso
No mais fundo de ti
Eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


1 comentário:

mc disse...

Espero que as mães tenham recebido singelas e sentidas ofertas, fabricadas pelos seus filhos.